5 de set. de 2010

MINHA ORAÇÃO

FAZ DOIS ANOS QUE MEU FILHO PARTIU

Da minha janela quando amanhece vejo as últimas estrelas no céu e, ao mesmo tempo, os primeiros clarões da madrugada. É um momento sublime, em comunhão com Deus, agradeço por estar com Ele na beleza do dia que começa e no silêncio do amanhecer. Ao acordar sinto, no ar da manhã que respiro a presença Dele me fortalecendo para mais um dia de vida. Então, além de agradecer, choro pelas despedidas, pela saudade (saudade é a lembrança que fica), pedindo que Ele me conforte e me ajude a não cultivar nenhuma amargura no coração.
Buscando respostas para as minhas saudades, ouvi o canto triste de uma sabiá junto à minha janela. O seu canto se misturou com os meus sentimentos e, no seu lamento, se encontrou comigo. Percebi a tristeza da sua mensagem. Era forte e comovente o seu canto tentando proteger os seus filhotes de um predador, um gavião que em vôos rasantes investia contra o seu ninho. A nossa força vem justamente de nossa fraqueza, do sofrimento que nos faz lutar e transformar a dor em esperança.
Vivemos num mundo inquietante, de desafios, lutas, dúvidas, agressões, dores que geram inseguranças. A vida é uma construção constante. Como nos defender do que ameaça? A sobrevivência instintiva, inata, é comum a todos os seres. Um amigo, da nossa Família Parkinson, fazendo um comentário sobre o livro Era Outono em Barcelona, O meu encontro com Mr. Parkinson, afirmou: "os búfalos e touros são os únicos seres a investir contra o perigo mesmo na eminência da morte. Se por um lado nisso se sustentam as touradas espanholas e surrealistas, o fato é que esses animais lutam, até morrer numa tentativa de garantir sobrevivência. Assim tem sido o mundo. Um jogo entre os seres que nele habitam pela sobrevivência de cada um."
A dor é solitária, nos faz acreditar que o frio está lá fora, mas o que sentimos realmente é um frio da alma, ainda, inconformada, imperfeita. Numa dessas manhãs, sob a lembrança de um sonho que me fez muito feliz, olhei para o céu e senti a sua presença. Sua imagem foi se apagando com a realidade da luz de um novo dia. Aquele momento ficou registrado na minha mente e, tive a certeza, absoluta, que você continuava vivo. Você não existe apenas nos meus sonhos. Sonhar dá significado à vida.
Sigmund Freud, criou um saber inteligente, construindo a sua teoria psicanalítica no terreno, ainda, desconhecido dos sonhos. Colheu exemplos de sonhos infantis identificando um elemento comum: todos eram simples e indisfarçadas realizações de desejo. ( F, Sigmund, A Interpretação de Sonhos vol. v. pag. 580 )
O sonho antecede a toda realização. Sonho não pode ser fuga, alienação.
Manuel Bandeira falava da sua dificuldade de sonhar. O poeta no seu lamento, dizia: ?Em que esquina do passado perdi meu coração de criança?
Nas minhas orações, olho para o céu e contemplo as estrelas. Posso ouví-las no meu coração. Falem comigo: em que estrela, em que lugar se encontra o meu filho?


MONICA DE OLIVEIRA SOUTO


"HÁ MOMENTOS NA VIDA QUE SENTIMOS TANTO A FALTA DE ALGUÉM QUE O QUE MAIS QUEREMOS É TIRAR ESSA PESSOA DE NOSSOS SONHOS E ABRAÇÁ-LA."
CLARICE LISPECTOR

Um comentário:

  1. Monica querida,a saudade doe aperta o peito, trabalho muito para não ter tempo de pensar que meus filhos estão tão longe...mas lendo seu artigo ¨minha oração¨ não deu pra segurar , eu chorei, mas Deus em sua infinita bondade nos consola sempre, e voce no sonho sentiu sua presença, com certeza seu filho tambem ficou feliz! beijos querida, que Deus te ilumine sempre!

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